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LÂMPADAS II – Qual é a lâmpada menos danosa ao ambiente – a incandescente ou a fluorescente?

4 de janeiro de 2013

Figura 1 – Lâmpada fluorescente compacta de 20 W, desmontada e separada por peças.

Figura 1 – Lâmpada fluorescente compacta de 20 W, desmontada e separada por peças.

Fala-se muito que a lâmpada fluorescente compacta – LFC – é ambientalmente mais sustentável do que as lâmpadas incandescentes. É um conceito repetido incansavelmente, como um mantra, sem muitas explicações, focando sempre no resultado da conta de energia.

Mas para afirmar que um tipo é mais econômico que outro, deveriam ser analisadas todas as etapas de produção de cada lâmpada, não só o consumo mensal. No final, a energia consumida pela lâmpada no tempo de vida estimado, somada àquela necessária para fabricá-la, poderá indicar que a economia não é tão boa assim.

O problema é que muitos analisam apenas o efeito imediato da mudança. O resultado mais visível é uma pequena alteração no valor da conta do mês. O custo para comprar o produto muitas vezes não é considerado, e ele pode ser impactante se a lâmpada não durar tanto quanto diz. O que, aliás, é bem comum.

Método de análise

Como simples consumidores, temos à mão poucos recursos para descobrir com precisão quanto de esforço é necessário para produzir cada modelo de lâmpada e qual o impacto ambiental resultante.

Por exemplo, pensemos na origem dos materiais para fabricar as lâmpadas. Isto nos leva à mineração. Bismuto, ferro, alumínio, cobre, estanho, mercúrio, ouro, petróleo, sílica e tantos outros minerais que são utilizados para fabricá-las. Quanta energia é gasta para extraí-los, processá-los, moê-los e criar os compostos que resultarão em cada peça do conjunto?

E o caminho segue na montagem e no transporte. Quanta energia se gasta para montar e embalar uma lâmpada, quanta energia (na forma de combustível, energia elétrica e outros insumos) é dispendida para transportar o produto até o ponto de venda?

Obviamente, como ninguém trabalha de graça os custos envolvidos na fabricação de qualquer coisa sempre refletirão no seu preço final. Exceto se o produto tem uma valorização apenas em razão de sua aparência – como alguns automóveis, atualmente -, mas este não é o nosso caso.

Ou se um subsídio governamental oculta os reais custos de produção – o que é bem frequente.

A forma encontrada para inferir o processo de fabricação de um modo mais palpável, foi desmontar uma lâmpada de cada tipo, verificar quais materiais que as compõe e chegar a alguma conclusão. Ou não…

Desmontando uma LFC

Comecemos com uma lâmpada fluorescente compacta. Na figura 1, pode-se ver todos os componentes de um modelo de 20W. Esta lâmpada tinha sido montada em luminária hermética – que é inadequada para as LFCs – e o bulbo trincou por causa do calor. Na parte de cima da foto, da esquerda para a direita, temos o contato menor do soquete, o isolante de vidro preto, o contato maior – que tem a rosca E27 – o invólucro plástico e os fios para ligar a placa ao soquete.

Seguindo mais abaixo, pelo meio da imagem, temos a placa de circuito impresso, os 4 pinos de ligação do bulbo, um capacitor eletrolítico, 5 capacitores de poliéster metalizado (verdes), 2 transistores, 6 diodos, duas bobinas, um transformador de pulsos e o bulbo de vidro, ainda colado a outra parte do invólucro plástico. No pé da imagem, o montinho da esquerda é a solda retirada de todo o produto e à direita tem mais 10 resistores. Ufa!

E ainda temos que considerar o mercúrio, o pó de fósforo e o gás do bulbo, além da embalagem, que geralmente é plástica. E o transporte, pois a LFC vem do outro lado do mundo, até 2012 ainda não era produzida no Brasil…

Desmontando uma incandescente

No momento que desmontei as lâmpadas, não tinha em mãos uma incandescente que fosse equivalente à LFC. Para uma comparação mais exata, deveria ser uma lâmpada de 100W, que emite aproximadamente a mesma quantidade de lumens que uma LFC de 20W.

Mas como nas incandescentes o que muda é somente o tamanho do filamento, vamos ficar com uma de 40W mesmo. A diferença de massa entre as duas deve ser algo em torno de 1 ou 2 gramas. Mas a marca das duas é idêntica e reconhecida pela qualidade.

Olhando a figura 2, temos, da esquerda para a direita, o contato metálico maior, com a rosca E27, o contato menor, o isolante de vidro preto, o bulbo com o filamento, o montinho marrom de adesivo de alta temperatura – para unir o soquete ao bulbo – e a solda utilizada nos contatos.

Tem ainda o gás do bulbo e a embalagem, que é de papel. E… só.

Figura 2 – Lâmpada incandescente de 40 W desmontada.

Figura 2 – Lâmpada incandescente de 40 W desmontada.

As diferenças

Pelas fotos acima pode-se notar que a lâmpada incandescente é a que utiliza menos insumos. Dentre eles, 3 são idênticos aos da LFC: as peças para o soquete E27. E uma parte do vidro e talvez do gás que a LFC requer.

Todo o restante de peças só a LFC necessita, para funcionar minimamente. Inclusive, se fosse um modelo com fator de potência (FP) mais elevado – próximo de 1, para igualar-se à incandescente -, haveria ainda mais componentes e o custo aumentaria bastante. Por isto é que não encontramos no comércio LFCs com alto fator de potência.

E o baixo fator de potência causa elevadas perdas de energia, principalmente se formos considerar uma cidade utilizando massivamente lâmpadas fluorescentes com FP=0,6 – como esta que desmontamos – ou ainda mais baixos.

Considere que um fator de potência de 0,6 fará a lâmpada gastar 40% mais de energia do que ela diz que gasta. Simples assim. Para saber mais sobre o fator de potência, consulte algumas referências sobre o assunto: [1], [2] e [3].

Os danos ambientais

Além disso, pode-se considerar que, em alguns países produtores de insumos para fabricação das LFCs, a energia elétrica e/ou os combustíveis são subsidiados, mascarando o verdadeiro custo para a população.

E mascarando também o verdadeiro impacto ambiental que causa a produção de absurdas quantidades de componentes eletrônicos, que em pouco tempo terão como destino o lixo – ver referências [4] e [5].

Figura 3 – Blister de lâmpada fluorescente compacta, que informa suas características. Igual a qualquer outra LFC.

Figura 3 – Blister de lâmpada fluorescente compacta, que informa suas características. Igual a qualquer outra LFC.

O grande problema das LFCs é ambiental, pois o descarte destes produtos é tão danoso quanto o imenso gasto de energia para a fabricação de seus componentes. Qualquer lâmpada fluorescente compacta, quebrada em um aterro sanitário, irá contaminá-lo com mercúrio (figura 3). Isso se não for jogada em qualquer canto, fazendo pior.

Além do mercúrio presente nas LFC, há muitas outras ligas e compostos, que fazem parte das etapas de produção destas lâmpadas e que simplesmente serão abandonados depois de um longo processo de fabricação.

E também de uma vida muito curta. É uma relação custo-benefício (ou se preferirem, uma relação berço-caixão) muito desfavorável, para nós e para nosso futuro.

Não é à toa que os governos estão sendo obrigados a criar políticas de tratamento de resíduos sólidos, pois é cada vez mais urgente dar a devida destinação ao lixo eletrônico.

E é necessário também responsabilizar os fabricantes, que nos entopem de eletrônicos – que ficam rapidamente obsoletos – e que não tem qualquer valor de revenda.

Se o dinheiro da compra de um equipamento fica todo para os fabricantes e vendedores, e nenhum para o consumidor final, no mínimo deveríamos responsabilizá-los com os custos do lixo produzido.

Ou encontrar formas públicas de recuperar este lixo eletrônico e ganhar dinheiro com ele [4]. Mais ou menos como o casco de garrafas de vidro, que tem um pequeno valor comercial. Só que o lixo eletrônico é muito mais rico, inclusive é bem mais rentável que qualquer mineração.

Referências

[1] UFSC – CBQEE VIII 2009 – Lampadas fluorescentes e as distorções harmônicas – http://www.labplan.ufsc.br/congressos/CBQEE_VIII_2009/web/docs/033.pdf

[2] UNICAMP – Fator de potência e distorção harmônica – http://sistemas.ib.unicamp.br/be310/index.php/be310/article/viewFile/153/109

[3] ON Semiconductor – Manual sobre correção do Fator de Potência – http://www.onsemi.com/pub_link/Collateral/HBD853-D.PDF

[4] Blog Estadão – Perdas com o lixo eletrônico – http://blogs.estadao.com.br/foca-economico/?p=67&doing_wp_cron=1357310900.9546229839324951171875

[5] USP – Computadores, Sustentabilidade e Meio Ambiente – http://wiki.icmc.usp.br/images/4/48/SCC0207-Graca_Grupo14Artigo.pdf

  1. 23 de abril de 2014 às 13:32

    Gosto muito de eletrônica e estou estudando para aperfeiçoar meus conhecimentos. E falando a respeito dás lâmpadas LFCs, achava interessante apenas pelo fato de proporcionarem maior luminosidade no ambiente, até descobri que posso recuperá-las substituindo componentes danificados por outros do mesmo modelo, ontem mesmo fiz isso, substitui um capacitor danificado que me custou 0,50 centavos, isso porque eu não tinha um do mesmo valor no momento, resultado, lampada em uso novamente, e assim evitei mais algumas gramas de lixo eletrônico. porém, isso não justifica o problema! Pois mesmo gostando de eletrônica e toda essas tecnologias atuais, sou contra o exagero desenfreado; infelizmente na direção dessa carroça está o apelo publicitário e politico, que cada vez mais incentivam ás pessoas a querem sempre uma novidade tecnológica… E a propósito parabéns pelo blog rico e muito interessante.

    • 23 de abril de 2014 às 22:05

      Hamilton, obrigado pelo apoio, há poucos dias ouvi o seguinte: “Somente o bem durável é que torna o ambiente sustentável”.

      O desperdício está com os dias contados, apesar da força que fazem as grandes corporações, cujo único objetivo é o lucro, não importando se um lado do planeta fica poluído para o outro lado posar de sustentável.

  2. Ícaro
    23 de setembro de 2013 às 10:59

    Hoje as melhores são as de LED não é isso? Elas não contém nenhum material nocivo, como as incandecentes.

    Dizem que uma de 5W equivale a 15W da fluorescente.


    Parabéns pelo blog, visitarei mais vezes, conheci hoje 😀

    • 23 de setembro de 2013 às 22:28

      Ícaro, se quiser ver melhor o que são os LEDs, dê uma olhada no post “LEDs – Como ligar, sem queimar”. Lá, explico como é o processo atual de fabricação e porque ainda não estamos com uma tecnologia imbatível, afinal, os LEDS somente transformam 30% da energia que recebem em luz, o resto é calor…

      Claro, as incandescentes são muito piores: 5% de luz e 95% de calor.
      As fluorescentes devem estar aí pelos 15 a 20% de luz, contra o restante de aquecimento.

      Mas, se formos olhar a mineração, que é o começo de tudo, como é que são retirados os diversos materiais que fazem um LED, como o ouro, gálio, arsênio, cobre, ferro, estanho, fósforo, etc., quanta energia é gasta nisto? Quantos processos químicos são empregados?

      É importante saber se o “ambientalmente correto” não é apenas visto pelo lado de dentro de nossa casa. Lá fora, as coisas podem não ser tão “clean”, podem estar destruindo a natureza para fabricar tais produtos.

      É uma suposição, mas veja por exemplo o problema da mineração do nióbio e do lítio. Veja onde estão as minas hoje em dia.

      • Ícaro
        24 de setembro de 2013 às 13:23

        Mas quando as fluorescentes queimarem? Qual a sua opinião? Melhor trocar por LED?

      • 26 de setembro de 2013 às 20:06

        Ícaro, as lâmpadas LED ainda não alcançaram uma relação custo/benefício aceitável. São muito caras pela luz que produzem. Eu ainda trocaria pelo mesmo tipo de lâmpada, por poucos anos, até o mercado assentar a poeira. Agora, todos estão querendo sua fatia no mercado, há centenas de fabricantes, cada um alegando que sua tecnologia é melhor. Vamos aguardar.

  3. _JF
    20 de fevereiro de 2013 às 15:54

    Isso é preocupante, as alternativas a lâmpada incandescente não são tão boas e o governo está trabalhando para eliminar as incandescentes do mercado, veja: http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/07/02/proibida-producao-nacional-e-importacao-de-lampadas-incandescentes-de-150w-e-200w

    Aproveito para parabenizar pelo blog, li a maioria dos artigos e gostei bastante, artigos bastante informativos e feitos com muito esmero.

    • 21 de fevereiro de 2013 às 01:06

      Olá, obrigado pelo link. Estou preparando há algum tempo um artigo sobre as vantagens e desvantagens de diversos tipos de lâmpadas, e quero deixar ele bem completo. Quanto ao banimento das incandescentes, é um movimento mundial. Países da União Europeia e outros, como o Canadá e Austrália, estão nesta mesma linha. Aguarde para breve mais postagens sobre lâmpadas, o assunto é extenso. E obrigado pelos elogios, a intenção é passar o que aprendi, de uma forma simples e fácil de entender.

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