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DICA – Como endereçar cartas e encomendas


Figura 1 – Envelopes tipo RPC (Recomendado Pelos Correios

Figura 1 – Envelopes tipo RPC (Recomendado Pelos Correios).

Este artigo pode parecer sem muita utilidade, mas, numa época em que todos podemos vender algo pela internet, até coisas usadas e já sem serventia – desapega! -, é crucial que façamos todo o possível para que tais encomendas sejam entregues o mais rápido possível ao destinatário.

Diferente da crença geral, os remetentes tem muita responsabilidade pela lentidão dos Correios.

Segundo informações colhidas de carteiros e atendentes dos Correios, muitos não sabem o modo de endereçar corretamente cartas e encomendas e fazem de qualquer jeito. Talvez pensem que os entregadores sejam mágicos ou adivinhos…

Por exemplo, o endereçamento bem feito ajuda muito no despacho de mercadorias e envelopes, pois pode ser lido por máquinas.

Pouco se sabe do funcionamento interno da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), mais conhecida como Correios. Tem um video do apresentador Otávio Mesquita, de 2016, que mostra os equipamentos utilizados num centro de triagem de SP. Apesar de desviar constantemente dos assuntos que nos fariam conhecer melhor a ECT – pois impede o interlocutor de dar mais explicações e aborda alguns aspectos fúteis -, é possível admirar o gigantesco maquinário e também o motivo pelo qual o símbolo dos Correios são aquelas setas…

Fazem muitos anos que os Correios investem em automação. Na década de 1980, quando era comum falar bem da grandiosidade da ECT e do Brasil, já existiam máquinas, muitas desenvolvidas aqui mesmo. Mas, tudo muda. Varejando na internet, encontrei uma notícia 16 de janeiro de 2002, do Correio do Povo (figura 2), informando a chegada de 12 contêineres, com máquinas e equipamentos de triagem, vindos da Siemens alemã [1]. Não é só em Porto Alegre, todas as grandes cidades brasileiras possuem algum tipo de sistema de automação. A correspondência, quanto mais chega perto de seu destino, mais tem manuseio humano.

Figura 2 – Notícia do Correio do Povo. Clique para ampliar o texto em nova aba.

Figura 2 – Notícia de 16 de janeiro de 2002, do Correio do Povo. Clique para ampliar o texto.

NOTA – Como a palavra “correio” é o único sinônimo de “correspondência”, fiz uma escolha dos termos, para evitar confusão. Sempre que aparecer “Correios”, estarei referindo-me à ECT. E chamo de “correspondência”, quando quero falar de cartas e encomendas ao mesmo tempo. Se é necessário especificar qual delas, os termos “carta” e “encomenda” são empregados.

A profissão de carteiro

Os homens carregam bolsa com 8kg e as mulheres, 6kg. São 8 horas de trabalho por dia, 4 horas andando na rua e 4 na triagem, selecionando correspondências. A empresa não permite que a bolsa seja abastecida com mais de 10Kg. Um carteiro pode andar de 8 a 15 km, todos os dias. E reabastece a bolsa várias vezes. Experimente você caminhar ao redor de uma quadra com um ou dois sacos de 5 kg de farinha a tiracolo e terá uma ideia do que é esse trabalho…

Tem um agradável vídeo, do carteiro Rubens Mendes, de 2012, à época com 38 anos de profissão. É possível ver a rotina de trabalho, no período em que os carteiros ficam na triagem, antes da entrega. É a outra ponta, onde é tudo manual.

Rubens também explica porque o endereço deve sempre estar completo: apesar dele conhecer bem a região do Grajaú (SP) e entregar muitas vezes correspondências com endereços incompletos, quando alguém eventualmente o substituir (férias, etc.), não conseguirá entregá-las, pois não conhece como ele as pessoas da localidade.

Já o vídeo de “Maisa Descobre – Um dia de carteiro” mostra a confusão de números nos endereços. Este é um reflexo da completa falta de planejamento urbano no Brasil. As cidades crescem de modo caótico e nossas ruas refletem isso muito bem.

Além disso, quando as máquinas não conseguem identificar o destinatário, algum funcionário terá que decifrar o que está escrito e então dar o rumo adequado.

Um CEP errado pode, por exemplo, cair em uma cidade diferente da pretendida. Isso aumenta o tempo de processamento e os custos de transporte e é mais comum do que se imagina.

Agora, imagine fazer isso com milhões de cartas e encomendas. O trajeto, que poderia ser grandemente facilitado, se a forma de endereçar fosse a correta, transforma-se em um périplo de idas e vindas.

Por outro lado, devido à recorrente falta de funcionários nos Correios, é importante fazer a nossa parte para não sobrecarregá-los. Levar a encomenda pronta, fechada e endereçada ao guichê, por exemplo, ajuda muito na rapidez do atendimento.

Eu canso de ver pessoas chegando apenas com um embrulho nas mãos e fazer tudo com o atendente: empacotamento, colagem e endereçamento. Haja paciência…

Quando eu lidava com os Correios nas décadas de 1970 e 1980, jamais os atendentes aceitavam correspondências abertas ou incompletas como hoje. Só diziam:

– Preencha e cole lá no balcão e depois volte.

Ao levarmos a correspondência pronta para postagem, evita-se perda de tempo (da pessoa, dos atendentes e do restante do público). Hoje, cada vez mais o tempo vale dinheiro. Consideração com os outros é importante, se queremos melhorar este país.

Código de Endereçamento Postal – CEP

O CEP foi implantado em 1971 e tinha inicialmente 5 números. A partir de 1992, passou a usar 8 algarismos. O CEP é um código desenvolvido pelas administrações postais do mundo e tem por objetivo agilizar o encaminhamento, a triagem e a entrega das correspondências.

É tão importante que os Correios criaram o envelope RPC (Recomendado Pelos Correios), mostrado na figura 1. Esses envelopes tem lugar predefinido para a colocação do CEP e facilitam a visualização, manual ou automática, por estarem sempre na mesma posição.

Cada um dos cinco primeiros algarismos do CEP informa a Região, Sub-região, Setor, Subsetor e Divisor do Subsetor. Os três números restantes (sufixo) são separados por um traço e representam os Identificadores de Distribuição.

Com o CEP, consegue-se saber o estado, a cidade, o bairro, a rua e até o tipo de prédio onde será feita a entrega. Os últimos três algarismos informam, por exemplo, se o destino é um condomínio, uma caixa postal, uma rua, etc.. Se o sufixo é 000, significa que a localidade não está classificada por logradouros. É o caso das pequenas cidades.

Para maiores explicações sobre o CEP, acesse a Wikipedia [2] e o sítio da ECT [3]. Em abril de 2018, observei que essa página dos Correios não funciona bem em todos os navegadores, algumas imagens simplesmente não baixam.

Agora, vamos à parte prática: conheça os modos de endereçamento de cartas e encomendas.

REGRAS BÁSICAS PARA O ENDEREÇAMENTO

– NÃO INFORME O TELEFONE na correspondência, ele pode ser confundido com o CEP. Lojas do exterior frequentemente inserem dados que podem embaralhar o endereçamento. Neste caso, o ideal é pedir para que não sejam informados na etiqueta da encomenda.

– NÃO CUBRA OS CÓDIGOS DE BARRA com fita de empacotamento ou fita durex. Mesmo que seja transparente, a camada brilhante do plástico atrapalha os sensores de leitura.

– Em envelopes ou embalagens grandes, cole a etiqueta de endereçamento perto do CANTO INFERIOR ESQUERDO.

– DEIXE O CEP SEMPRE NO COMEÇO DA ÚLTIMA LINHA. Também USE O TRAÇO entre o prefixo e o sufixo. Prefira a seguinte sequência:

NOME DO DESTINATÁRIO (eu sempre coloco em maiúsculas)

Logradouro (Rua, Avenida, Estrada, Praça, travessa, etc.)

Bairro

Cidade/Estado

CEP

É importante empregar letras maiores para o endereçamento do destinatário e letras menores para o remetente, de modo a deixar claro para quem é a correspondência e quem foi que a mandou.

Sempre informe o endereço completo do remetente, para facilitar uma eventual devolução (destinatário recusou a encomenda ou mudou-se, empresa fechou, etc.).

Eu evito utilizar tanto quanto possível os hífens e travessões no endereçamento, exceto para o CEP. Para separar cidade e estado, que podem ficar junto do CEP, sempre use a barra de divisão (/).

Antigamente, os sensores eram confundidos quando havia outros traços nos dados do destinatário. Talvez isso tenha sido resolvido, afinal a tecnologia evolui rápido, mas quanto menos manipulação de dados e tomadas de decisão a máquina precisar fazer, mais rápido será o processo. Pense sempre em milhares de operações por hora.

Figura 3 – Antigo envelope "Par Avion".

Figura 3 – Antigo envelope “Par Avion”.

ENDEREÇANDO CARTAS

Nas CARTAS ESCRITAS À MÃO, utilize sempre envelopes modelo RPC, que tem lugares predeterminados para escrever os CEPs (figura 1). O remetente fica no verso do destinatário e tem menor destaque.

Esqueça aquelas cartas zebradas, guardadas há anos na gaveta, como a da figura 3. São bonitas, mas não são práticas, nem estão no padrão sugerido pela ECT. A menção ao transporte aéreo – aquele quadrinho azul onde está escrito “via aérea” e “par avion” (por avião) -, só serve de enfeite, pois não garante o envio mais rápido, há que pagar as respectivas taxas, como o Sedex.

Pegue uma caneta que escreva forte e grosso e capriche na escrita. Não precisa ter letra bonita, mas deve ser fácil de ler. Não dê uma de médico, a clareza é essencial para agilizar o tráfego da correspondência, use letras grandes, mas sem exageros. Desenhe os números com cuidado, dentro dos quadradinhos. Um envelope bem escrito fica mais ou menos como na figura 4.

Figura 4 – Frente e verso de envelope manuscrito.

Figura 4 – Frente e verso de envelope manuscrito.

Para enviar CARTAS COM ETIQUETAS IMPRESSAS, as figuras 5 e 6 mostram duas formas aconselhadas pelos Correios.

Eu prefiro colocar os dados do destinatário em negrito e com fonte maior, dá mais destaque e facilita a leitura.

Perceba que o CEP sempre está à esquerda, na linha mais inferior. Isso melhora a interpretação pelas máquinas e até pelos carteiros, que não precisam ficar procurando, é só olharem naquele canto.

Agora imagine colocar embaixo do CEP o telefone do destinatário ou deixar alguma propaganda exposta, onde também constem números. Como é que a máquina irá saber qual número é o certo, se ele pode estar em qualquer lugar? Terá que lê-los, consultar o banco de dados e compará-los, tomando mais tempo de processamento.

As figuras 5 e 6 mostram 2 formas de endereçamentos impressos. O que muda é a posição da cidade e do estado, que pode ficar em cima ou no lado direito do CEP.

Figura 5 – Envelope endereçado por etiqueta impressa – modo 1.

Figura 5 – Envelope endereçado por etiqueta impressa – modo 1.

Figura 6 – Envelope endereçado por etiqueta impressa – modo 2. Observe a posição do CEP,

Figura 6 – Envelope endereçado por etiqueta impressa – modo 2. Observe a posição do CEP,

ENDERECANDO ENCOMENDAS

Nas ENCOMENDAS, prefira empacotar com papel pardo, sem propagandas. Deixando poucas informações na embalagem, o processamento é mais rápido. Eu costumo proteger o objeto em plástico bolha, isopor ou assemelhado e usar caixas de papelão comuns, obtidas em supermercados. Por último, embalo com papel pardo (kraft), encontrado em papelarias.

Também é possível usar o lado interno das caixas, que não tem nada escrito, mas daí será necessário reforçá-las, pois na remontagem elas ficam mais frágeis.

É interessante que seja gerado o código de barras do CEP. Ele pode ser obtido no endereçador online dos Correios, é só informar os dados do remetente e do destinatário e imprimir a etiqueta (acesse AQUI o formulário do endereçador).

Figura 7 – Etiqueta gerada para encomendas, com código de barras do CEP, obtida no endereçador online dos Correios [4].

Figura 7 – Etiqueta gerada para encomendas, com código de barras do CEP, obtida no endereçador online dos Correios [4].

Figura 8 – Etiquetas que eu utilizava para enviar encomendas. Observe os tamanhos diferentes, para destinatário e remetente. Eram impressas em papel A4, recortadas e coladas na embalagem.

Figura 8 – Etiquetas que eu utilizava para enviar encomendas. Observe os tamanhos diferentes, para destinatário e remetente. Eram impressas em papel A4, recortadas e coladas na embalagem.

Figura 9 – Posição das etiquetas em encomenda pronta.

Figura 9 – Posição das etiquetas em encomenda pronta.

Observe que a etiqueta gerada pelo endereçador é uma só, nela aparecem tanto o destinatário quanto o remetente (figura 7). O sistema pode gerar várias etiquetas para o mesmo remetente e/ou para o mesmo destinatário, é só mandar copiar os campos.

PRESTENÇÃO: nessa página dos Correios, você escreve primeiro o REMETENTE, depois o DESTINATÁRIO. O telefone, aqui informado opcionalmente, não aparece na etiqueta, fica apenas cadastrado na ECT, para eventuais comunicados.

Eu posto encomendas há vários anos e antes de utilizar o sistema dos Correios, gerava as etiquetas num editor de texto (LibreOffice) e imprimia a laser. Ou escrevia à mão mesmo, com caneta de retroprojetor (que tem linha mais grossa). Daí, recortava as etiquetas e colava na embalagem. Em cima, ficava a etiqueta maior, do destinatário e ao lado, na vertical, a etiqueta menor, do remetente (figuras 8 e 9).

Por causa desta mania de fazer tudo dentro dos padrões corretos, aconteceu uma vez, lá por 2010, de uma encomenda PAC sair daqui do interior do RS e chegar em 3 dias em MG. Bons tempos, aqueles…

Hoje, pode levar mais de um mês para fazer o mesmo trajeto.

Declaração de conteúdo

Uma exigência recente é que todas as encomendas devem exibir na parte externa a declaração de conteúdo ou a nota fiscal do produto. Não precisa ser em envelope transparente, nem exibir o lado impresso (a privacidade melhora a segurança). Costumo usar um saco plástico envolvendo a declaração, lacrado com fita de empacotamento num dos lados da caixa (não é o mesmo lado da etiqueta do remetente). Acesse AQUI o link para o formulário.

Automatizações para empresas e desenvolvedores

Além do gerador de etiquetas para encomendas, visto acima, A ECT disponibiliza para download um programa endereçador, que pode ser usado em escritórios. É outra forma de facilitar o serviço. É interessante conhecer, acesse o endereçador AQUI [5].

Para os desenvolvedores de sistemas, há um guia com características técnicas, algoritmos e especificações para o endereçamento e geração do código de barras do CEP. Os desenvolvedores podem criar suas próprias etiquetas de endereçamento, dentro dos padrões receitados pelos Correios. Acesse o Guia Técnico para os desenvolvedores AQUI [6].

Mais informações, acesse as páginas dos Correios sobre postagem de cartas e encomendas [7][8].

O futuro dos Correios

Os Correios existem há mais de 350 anos. A instituição foi criada em 25 de janeiro de 1663, no Rio de Janeiro, quando então chamava-se Correio-Mor. Em 1931, incorporou a Repartição Geral dos Telégrafos, passando a chamar-se Departamento dos Correios e Telégrafos (DCT). Em 1969, transformou-se na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT ou EBCT, como foi por algum tempo nos anos 1970). Ficou como empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações.

Ao longo dos anos, os Correios foram incorporando mais funções, como o Banco Postal, que funciona como agência bancária e que é, muitas vezes, a única instituição financeira da região.

A ECT tinha, no início de 2018, 115 mil funcionários, está presente em todos os municípios do Brasil, mas tem um futuro incerto. Estima-se uma carência de pelo menos 30% de empregados, devido a aposentadorias e Planos de Demissão Voluntária. A meta para 2018 é ficar com uma força de trabalho de 106 mil pessoas.

Também são frequentes as ausências por problemas de saúde, decorrentes da cobrança de metas e do trabalho muitas vezes extenuante e perigoso (muita correspondência para entregar de uma vez, com peso excessivo e frequente perigo de assaltos e agressões). Mas, metas justas e salários adequados são importantes para qualquer empreendimento ou instituição funcionar adequadamente, quando depende da força de trabalho.

192 correios pelo mundo e somente 8 deles estão nas mãos do mercado (Aruba, Cingapura, Grã-Bretanha, Líbano, Malásia, Malta, Países Baixos e Portugal). São geograficamente minúsculos, nenhum deles tem o tamanho continental do Brasil. Nem há qualquer tendência mundial para vender essas estatais. Só aqui.

É necessário que os Correios permaneçam públicos por uma simples razão: a empresa pública não tem o lucro como objetivo, portanto as tarifas são geralmente mais baratas. A essência é a prestação de serviço, especialmente naqueles que são o osso que ninguém quer, lugares que dão pouca rentabilidade, como os isolados e pequenos povoados.

Quando é a única instituição pública a atuar em todos os municípios brasileiros, é de se perguntar de que forma o atendimento será mantido, se ela não continuar estatal.

Uma empresa privada jamais pagaria o que vale a ECT e fecharia muitas agências, pois não tem nenhum objetivo social ou altruísta. Estão ali para ganhar dinheiro e provavelmente financiar campanhas dos políticos que os apoiam, da mesma forma como ocorreu na década de 1970, com o loteamento das linhas de ônibus intermunicipais e mais recentemente, aqui no RS, com os pedágios.

Aliás, é assim com boa parte das concessões públicas, pois é um tipo de empresa de vida tranquila, com mercado cativo e lucro certo, que não tem concorrentes. Só precisam mexer os pauzinhos, de tempos em tempos, para garantir a continuidade da concessão. Nós, usuários, só ficamos rezando para que os serviços sejam bem feitos e não nos arrombem o bolso.

Deve ser observado que a terceirização de várias atividades dos Correios assemelha-se mais a um disfarce de eficiência, pois os custos aumentam e os lucros ficam para as empresas terceirizadas. Em que pese o menor risco para a ECT (contratação e demissão de pessoal), a qualidade do serviço não fica garantida.

Apesar de monopolizar os objetos simples, como malotes (correspondências agrupadas), selos, cartas, cartões postais, telegramas, etc. e que ainda representam 40% do faturamento, o setor de encomendas é de livre concorrência e o que mais cresce. Os malotes são o filé do setor monopolizado, pois são utilizados por todas as instituições públicas e empresas médias e grandes, para o transporte de documentos. Como as empresas privadas não têm a capilaridade, nem o tamanho e nem a confiança que os brasileiros depositam na ECT – é a empresa mais confiável do país -, querem apropriar-se da estatal.

A questão da má gestão ou do desvio de recursos não é exclusiva de empresas estatais, também há muita roubalheira em empresas privadas. Não é desculpa, obviamente há a necessidade de controle dos atos das chefias e a punição exemplar, caso ocorram desvios. Fazer isso em empresa pública é até mais fácil, pois há todo um regramento. O problema é a punição chegar nos graúdos, pois os pequenos são controlados bem de perto, nem tem condições de fazer qualquer delito importante.

O que não é possível aceitar é que o governo de plantão decida, entre paredes, vender uma empresa tão antiga (antes precisa quebrá-la), apenas para satisfazer meia dúzia de endinheirados. Se fosse feito um plebiscito, como decidiria o povo?

A CGU (Controladoria Geral da União), criada em 2003, assumiu as funções da Corregedoria-Geral da União (criada em 2001) e era encarregada de defender o patrimônio público, combater a corrupção e aumentar a transparência dos atos do governo, mas hoje suas funções estão enormemente limitadas [9].

Apesar disso, a CGU fez uma auditoria nas contas da ECT entre 2011 e 2016 [10], onde demonstra que o problema dos Correios é a má gestão. E já fez isso antes, quando detectou outras irregularidades, em 2011 [11].

Trabalhadores da ECT de São Paulo estudaram o relatório dessa auditoria da CGU e mostram o que está acontecendo com a empresa, desde o começo desta década, na série de artigos “Déficit? Só se for de funcionários” [12].

O relatório da CGU [13] pode ser baixado AQUI ou AQUI. Seguem alguns pontos tratados no trabalho:

Queda da lucratividade, devido à redução de número de funcionários, agências, centros de distribuição e ao vertiginoso aumento das indenizações por atraso, roubo, avaria e extravio. Perceba o que é causa e o que é consequência, é o contrário do que dizem os grandes meios de comunicação.

Falta de investimento no setor mais rentável (encomendas), com a extinção do e-Sedex.

NOTA: As compras pela internet (e-commerce) aumentam mais de 10% a cada ano no Brasil [14]. Os aumentos foram de 12% em 2017 e estima-se 15% para 2018.  Em 2016, quase 1/4 da população brasileira (48 milhões) comprou pelo menos um produto através da internet [15].

Elevação dos custos com pessoal, apesar dos PDV/PDI (Plano de Demissão Voluntária/Plano de Demissão Incentivada), que enxugaram milhares de funcionários da ECT. A meta do último plano – que foi ultrapassada – era de 5 mil demissões. É que, apesar do prejuízo nas contas dos Correios, aumentaram os gastos com gratificações para chefias e com contratações de assessorias.

O saldo de caixa, que deve cobrir despesas futuras com pessoal, advindas de aposentadorias e convênio médico, também chamado de pós-emprego. Uma manobra contábil determinou aumento de 345,8% neste saldo, o que engessou o capital de giro da empresa.

Os insumos tiveram aumento de 179% entre 2011 e 2016, muito além da inflação do período. As compras, os pagamentos, os registros e conciliações contábeis são feitas pela mesma Vice-Presidência, o que fragiliza e dificulta o controle de fraudes. Semelhante à raposa cuidar do galinheiro.

– Foram apontadas falhas nos Controles Internos Administrativos e na Auditoria interna, destinados justamente a evitar fraudes, desvios, superfaturamento, privilégio a fornecedores, etc.. Diversos fatores ligados a fraudes não foram considerados na elaboração da Matriz de Riscos Estratégicos. Relatórios financeiros e demonstrativos contábeis também estão sob suspeita.

Repasse para a União de mais de 3 bilhões de reais dos Correios, entre 2011 e 2013, acima da exigência legal. Que continuou nos anos seguintes.

Redução severa nas aplicações financeiras, que garantiam dinheiro para capital de giro e investimentos, secando o caixa da empresa, literalmente.

Licitações sob suspeita: uma em especial, de R$ 850 milhões, que planeja trocar TODA a correspondência em papel para meio digital (não se sabe como) [16]. Contratação de duas consultorias para o mesmo objetivo (implantação de um programa de transformação nos Correios).

– As especificações das contratações dos serviços de informática e processos tecnológicos terceirizados foram diferentes das usuais, o que restringiu os fornecedores aptos e impediu a comparação de preços. Além disso, não ficaram claros para a CGU os objetivos, principais funcionalidades e a descrição dos sistemas de informação e projetos de TI envolvidos, nem os prazos para desenvolvimento e conclusão dos projetos.

As análises sobre o relatório da CGU ainda estão sendo publicadas, portanto este artigo poderá ser atualizado posteriormente.

CORREIOS CELULAR

Houve foi uma tentativa do governo anterior, que iniciou em 2011, de diversificar as atividades e inserir a ECT nas novas tecnologias de comunicações. Você sabia da existência da Correios Celular? É a operadora de telefonia da ECT, que utiliza a estrutura da operadora TIM, através da EuTV (Surf Telecom) [17].

Não há propaganda alguma dessa operadora, só perguntando nas agências dos Correios. Olhando com cuidado, talvez encontre um cartaz dentro do estabelecimento.

A Correios Celular trabalha só com planos pré-pagos, que oferecem vantagens para quem não liga muito, mas utiliza bastante a internet para enviar mensagens. Ao terminar o saldo, o acesso à internet é reduzido, mas não fica bloqueado, enquanto estiver dentro da validade.

O objetivo da operadora da ECT é atender as classes C, D e E. No entanto, a página da Correios Celular [18] está com problemas, pois seguidamente não carrega o conteúdo dos menus (em abril de 2018).

Soluções?

Além do relatório da CGU, há outras denúncias de mau uso dos recursos da ECT, como o exagerado gasto com o patrocínio das Olimpiadas 2016, a criação da Correios Par, a mudança do logotipo em 2014, os gastos com publicidade e a locação de imóveis caros (enquanto os de propriedade da empresa ficam abandonados) [16].

Quem acha que os atos das chefias não palmilharam o caminho da crise, ignora o funcionamento dos cargos de confiança. São vagas essencialmente políticas, usadas como moeda de troca pelo Poder Executivo, para receber apoio para suas propostas no Legislativo. Esse troca-troca constante dificulta e até impede a sobrevivência de projetos de longo prazo, que poderiam dar um rumo certo para a empresa. Fica-se a apagar incêndios, sem alterar, ou pior, enxergar, o que é fundamental.

Eu gostaria de ver um dia as instituições governamentais disporem de maior autonomia, serem geridas por funcionários de carreira, escolhidos periodicamente por votação interna e auditados por corregedorias completamente independentes. Todos focados no bem-estar geral, na economia dos recursos e no controle dos desperdícios. Onde o corporativismo tivesse alguma forma de controle, impedindo exageros.

Também desejaria que houvesse colaboração intensa entre os órgãos públicos, onde cada um respeitasse o outro, na especialidade que lhe compete.

Não como hoje, em que decisões internas são desrespeitadas a todo momento por gente de fora, que tem poder e gosta de holofotes, mas que tem um conhecimento superficial e despojado de bom-senso e que por isso causam nefastos danos às atividades-fim daqueles órgãos, instituições e empresas.

Não como hoje, em que os chefes para postos-chave caem de helicóptero, por indicação política. Muitas vezes, essas pessoas não são técnicas, nem possuem conhecimento do setor. Isso facilita os desmandos, pois como não tem intimidade nem compromisso com as instituições, invariavelmente aceitam às cegas as ordens dos políticos que lhes deram a “boquinha”. Nos maiores escalões, costumam fazer invenções administrativas mirabolantes, com o objetivo de deixar a sua marca para a história. E nós, pagamos.

Uns e outros fazem porque podem, não porque pretendem ser justos. Afinal, não dá nada. Nós, os pequenos, só olhamos e meneamos a cabeça:

– Tsc, tsc, tsc…

REFERÊNCIAS

As páginas foram consultadas em Abril de 2018

[1] Correio do Povo – Porto Alegre, quarta-feira, 16 de janeiro de 2002 – Novas máquinas atualizam a ECT – http://www.correiodopovo.com.br/jornal/A107/N108/HTML/17NOVAS9.htm

[2] Wikipedia – Código de Endereçamento Postal – https://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%B3digo_de_Endere%C3%A7amento_Postal

[3] Correios – CEP – Código de Endereçamento Postal – https://www.correios.com.br/a-a-z/cep-codigo-de-enderecamento-postal

[4] Correios – Geração da etiqueta para encomendas – http://www2.correios.com.br/enderecador/encomendas/default.cfm

[5] Correios – Download do endereçador escritório

http://www2.correios.com.br/enderecador/escritorio/instalacao.cfm

[6] Correios – Guia técnico para desenvolvedores – https://www.correios.com.br/precisa-de-ajuda/como-enderecar-cartas-e-encomendas/guia-tecnico-cepnet-e-2d/view

[7] Correios – Guia técnico – Como endereçar correspondências

https://www.correios.com.br/precisa-de-ajuda/como-enderecar-cartas-e-encomendas/guia-tecnico-de-enderecamento-de-correspondencias/view

[8] Correios – Guia técnico – Como endereçar encomendas

(cartilha) – http://www.correios.com.br/precisa-de-ajuda/como-enderecar-cartas-e-encomendas/guia-tecnico-de-enderecamento-de-encomendas

[9] Ponto dos Concursos – Prof. Bruno Fracalossi – O fim da CGU! – https://www.pontodosconcursos.com.br/artigo/13087/bruno-fracalossi/o-fim-da-cgu

[10] CGU – Controladoria Geral da União – CGU identifica prejuízos crescentes nos Correios e risco de dependência da União – http://www.cgu.gov.br/noticias/2017/12/cgu-identifica-prejuizos-crescentes-nos-correios-e-risco-de-dependencia-da-uniao

[11] GGN – A auditoria da CGU nos Correios – https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-auditoria-da-cgu-nos-correios

[12] Sintect/SP – Cadê o déficit – https://www.sintect-sp.org.br/categoria/noticias/cade-o-deficit

[13] CGU – Controladoria Geral da União – Avaliação da Situação Econômica e Financeira – ECT – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – Exercícios 2011-2016 – Relatório nº 201700921 – https://auditoria.cgu.gov.br/download/10370.pdf

[14] E-Commerce News – E-commerce cresce 12% em 2017 e projeção para 2018 vai a 15% – https://ecommercenews.com.br/noticias/balancos/e-commerce-cresce-12-em-2017-e-projecao-para-2018-vai-a-15/

[15] Fecomércio – Quem compra pela internet no Brasil? http://www.fecomercio.com.br/noticia/quem-compra-pela-internet-no-brasil

[16] Sintect-SP – Direção da ECT torra fortunas com contratos duvidosos. Pra quê? – https://www.sintect-sp.org.br/noticias/direcao-da-ect-torra-fortunas-com-contratos-duvidosos-pra-que

[17] Technoblog – Correios Celular oferece plano de R$30 com WhatsApp grátis e não corta internet após franquia – https://tecnoblog.net/210056/correios-celular-planos/

[18] Correios Celular – Operadora de telefonia celular da ECT – Página inicial – https://www.correioscelular.com.br/

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  1. Rafa
    10 de junho de 2020 às 10:55

    Que análise boa você fez. Os Correios são muito importantes, assim como outras empresas públicas para a sobrevivência do próprio país. Se ele não fosse rentável, não teria esse interesse todo em privatizá-lo. Parabéns pelo artigo!

    • 11 de junho de 2020 às 23:58

      Aí é que está, Rafa, tem muito o que melhorar em empresas públicas, mas não precisa vender… Obrigado pelas palavras de apoio!

  2. Carlos Spindula
    17 de abril de 2018 às 17:21

    Obrigado pelo Post e pelas informações ! Sobretudo a importância dos Correios permanecerem sendo Estatais, apesar dos governos usarem a empresa para uma desavergonhada roubalheira ! Lastimo a situação que o Fundo dos Empregados POSTALIS está, mesma situação que outros fundos de empresas estatais estão, apos anos de gestão criminosa !

    • 19 de abril de 2018 às 21:59

      Carlos, evitei de abordar o problema do fundo de pensão Postalis, que tem gestão separada, mas certamente, se mexeram em um lado, mexeram também em outro, com o objetivo de se locupletarem. O problema é que há maus comportamentos institucionalizados, se alguém tenta mexer nessas estruturas, é malhado e preso.

      Está na hora da classe média, que sempre ocupou os cargos públicos, fazer valer a ética nas instituições, não o corporativismo cego. Precisam voltar a estudar o Brasil aqui de dentro, não lá de fora.

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