TÉCNICA – Reparo de trilhas de circuito impresso
Quem faz manutenção de equipamentos eletrônicos muitas vezes recebe aparelhos já mexidos, com danos graves nas trilhas das Placas de Circuito Impresso (PCI ou PCB – Printer Circuit Board), como mostra a figura 1. Além disso, alguns fabricantes também não cuidam da qualidade de seus produtos e qualquer ressoldagem é suficiente para descolar as trilhas. Outras vezes, o aparelho chega com a PCI trincada.
Pensando nestas dificuldades, exponho aqui uma técnica para reparo de trilhas de circuito impresso que tem por objetivo manter os componentes nos seus lugares originais, bem como permitir a manutenção futura.
Material necessário
Para realizar a contento o serviço, deve-se dispor de diversos fios de cobre rígido, de diâmetros diferentes (figura 2). As bitolas variadas são necessárias para casar o fio com a largura da trilha. É interessante escolher os fios mais duros, já que eles formarão a nova sustentação física dos componentes e/ou da placa. Também é necessário cuidar que estejam em bom estado, sem oxidação – devem soldar facilmente. Se não houver outro fio à mão, será necessário raspar e reestanhar a porção a utilizar.
Além dos fios, será necessário um estilete, uma agulha grossa e uma ferramenta criada especificamente para auxiliar neste trabalho: Para poder raspar o verniz das trilhas de circuito impresso, foi modificada uma faca serrilhada pequena, com cabo de madeira. A lâmina original foi encurtada bastante e o cabo foi desbastado. Isso foi feito para reduzir as possibilidades de acidentes, além de permitir aplicar mais força com segurança. Esta faca foi detalhada em post anterior.
Neste texto, é utilizado como exemplo uma placa de circuito impresso com várias trilhas danificadas (figura 1). As trilhas conectam um transistor com encapsulamento TO-220. Este encapsulamento é um tanto pesado (para as trilhas do circuito impresso) e geralmente fica em local que pode aquecer. Somente a ressoldagem não irá resolver o problema e poderão ocorrer novas falhas. Há, portanto, necessidade de reparar as trilhas.
A técnica
A técnica utilizada para este caso é simples, mas um pouco minuciosa. Para começar, é necessário cortar com um estilete os trechos descolados das trilhas de cobre (figuras 3 e 4). É sempre bom cortar um pouco além da parte solta, asssim ficará facilitada a raspagem e a soldagem. Se a trilha for muito pequena, melhor retirá-la totalmente.
Depois de retirados os trechos soltos, raspar o verniz das trilhas que tem contato elétrico com a parte descolada (figuras 5 e 6). Deve-se raspá-las até uma boa distância da área danificada, pois irá apoiar mais firmemente os componentes e permitir a manutenção futura sem soltar os trechos reparados. Aproveite também para limpar as áreas adjacentes e poder visualizar melhor o local que está sendo trabalhado.
A faca da qual falamos acima é essencial para a raspagem do verniz, pois um estilete reto somente consegue fazer um risco na superfície. Esta ferramenta artesanal – que pode ter uma face cortante em ângulo escolhido pelo técnico -, raspa um trecho mais largo de cada vez. Além disso, o pequeno comprimento da lâmina permite o apoio da mão na placa, resultando em maior controle sobre a raspagem das trilhas. Para raspar confortavelmente, pode ser necessário utilizar um pano dobrado para apoiar a mão sobre a placa.
Após a raspagem e limpeza do local, escolhe-se o diâmetro mais adequado de fio rígido para refazer as trilhas e as ilhas de soldagem. O diâmetro não deve impedir que se possa fazer uma volta de fio ao redor do furo onde a trilha descolou. Como geralmente o aquecimento pode ter levantado outros furos adjacentes (como em nosso exemplo), deve ser possível contornar todos estes furos com fio, sem que eles formem curto-circuito entre si.
Agora, soldar uma ponta do fio rígido na parte raspada da trilha, no ponto mais afastado do trecho que foi cortado e removido (figura 7). Com um lado do fio ancorado solidamente na placa, pode-se então partir para os outros pontos, dobrando o fio no percurso da trilha original, sempre com o auxílio de uma agulha. Ela serve de ponto de apoio para as dobras. Nos furos, serve para contorná-los e deixar uma nova ilha de soldagem.
Se a trilha tiver um trajeto muito longo ou tortuoso pode-se, após ancorar o lado inicial, soldar rapidamente em pontos espaçados, geralmente nas curvas, de modo a fixar o caminho do fio. Ficará mais fácil dobrar o fio mais para frente, sem que seja desfeito o trabalho anterior. Depois, solda-se em toda a extensão da trilha, sem pressa para não amolecer a solda já feita.
Também poderá ser necessário manter a capa do fio, caso o reparo da trilha tenha grande extensão. Mesmo nestes casos é interessante percorrer o camiho original da trilha, fixando com cola quente em certos pontos, para manter o fio no lugar. Isto preservará boa parte da originalidade do aparelho e diminuirá a possibilidade de instabilidade no funcionamento.
O acabamento
Por último, pode-se passar um outro verniz na placa, para evitar oxidações futuras (figura 8). Tal “verniz” é muito fácil de fazer: utilize breu picado misturado com álcool isopropílico, quase meio a meio. Quanto mais breu, mais grossa fica a camada. O breu é excelente ajudante na solda, por isso não há problema colocar bastante na mistura – exceto por aumentar o tempo de secagem. Pode ser passado após a soldagem dos componentes, para deixar tudo protegido.
O breu, também chamado de colofônia, é uma resina natural obtida a partir do pinus. Pode ser encontrado em casas de ferragem ou em lojas que vendem insumos para fazer ceras depilatórias. Ele vem em pedras cor âmbar facilmente quebráveis, derrete a 70 ºC e é muito barato. O álcool isopropílico pode ser encontrado em farmácias de manipulação ou lojas de eletrônica. Para guardar o verniz, utilizo um recipiente plástico, de boca larga e tampa de encaixe, sem rosca (figura 9). Ele tem um peso colado no fundo do frasco, pelo lado de fora. O peso pode ser feito com um bloco de restos de solda derretidos ou com algumas moedas velhas, coladas com fita crepe. É necessário para estabilizar o frasco – pois é muito leve e vaza muito fácil. Para aplicar, utilizar um pincel de 10 mm, de cerdas bem curtas, cortadas exclusivamente para esta tarefa.
Um alerta com relação ao verniz: não sei se o seu comportamento em RF é aceitável, pois tenho tenho pouca experiência nesta área. As montagens onde utilizei o verniz funcionaram muito bem, mas nenhuma trabalha além de 1 Mhz.
Sermãozinho
As técnicas mostradas aqui fazem parte de um conceito assimilado e reafirmado ao longo de vários anos, realizando serviços de manutenção: quando fizer alguma coisa, faça bem feito. É um tanto raro notar este comportamento pelo Brasil, principalmente naqueles que deveriam dar o exemplo. Parece não saberem que somente colheremos aquilo que plantarmos. Tudo o que nos acontece hoje é resultado do que fizemos e pensamos antes. Por isso, quem tem um retorno frequente dos aparelhos que conserta, certamente estará deixando de lado a qualidade naquilo que faz, esteja ou não consciente disso.
Parabéns muito bom, muito bem explicado!
Parabéns,obrigado pelas dicas,sucesso!!
Muito bom!!!
vlw pelo post gostei bastante!!!
Bom 🙂