TÉCNICA – Conserto em plásticos I – Polietileno
Ao longo de vários anos trabalhando na manutenção de equipamentos eletrônicos e de laboratório, desenvolvi diversas técnicas para o conserto de peças plásticas. Pretendo repassá-las neste blog, em uma série de posts. Apesar de simples, cada video ou dica de conserto envolve uma experiência que resultou em prática consolidada para um bom serviço de manutenção. O resultado é um conjunto de informações relevantes para quem pretende conhecer algo mais sobre estes materiais.
Neste post, abordo a recuperação de um parafuso de polietileno (figura 1). Alguém poderá achar tolice consertar uma coisa tão insignificante. Mas neste caso, como em vários outros, a economia resultante foi bem razoável. E a técnica utilizada com certeza servirá para outros fins.
Os tipos de plásticos
Costumo classificar os plásticos em duas categorias: os que podem ser colados e os que não podem. Esta simples diferença muda a abordagem para manutenção.
Se o plástico aceita adesivos, deve-se escolher a cola correta e utilizá-la sem excessos. Se a peça continuar frágil após a colagem, apela-se para a fixação de reforços, utilizando complementos metálicos ou moldando estruturas com plásticos semelhantes. Entre os que admitem adesivos, estão o poliuretano, o ABS e o acrílico. Estas técnicas serão tratadas em outros posts.
Se o plástico não aceita cola, o método de conserto que utilizo é a reestruturação através de peças metálicas, como fios rígidos ou parafusos. O teflon e o polietileno são exemplos comuns deste tipo de plásticos.
Conserto em polietileno
O polietileno é muito utilizado pela indústria de transformação e geralmente tem a aparência leitosa ou opaca. É resistente, flexível e não quebra facilmente (dependendo da composição). Por ser atóxico, tem uso frequente em brinquedos. As bombonas translúcidas de água de 20 litros e os sacos plásticos, por exemplo, são feitos de polietileno de baixa densidade (PEBD), enquanto que os frascos de detergente e xampu tradicionalmente são produzidos com polietileno de alta densidade (PEAD).
O polietileno derrete facilmente com o calor, é soldável e facilita a submersão de peças metálicas para reforçar sua estrutura. Foi o que fiz com um parafuso deste material, pertencente a um assento Deca de vaso sanitário (figura 2). O custo do kit para troca era quase 20% do valor do assento.
A intenção de qualquer conserto é recuperar totalmente a funcionalidade da peça original. Se possível com alguma melhoria, de modo a impedir novos defeitos no futuro. Considero interessante utilizar a seguinte diretiva nos trabalhos de manutenção: Que o cliente não volte com o mesmo equipamento ou problema, mas com outro equipamento ou outro cliente. Aqui, o cliente era eu mesmo…
Como fazer o conserto
No caso deste parafuso de plástico, a intenção do fabricante, ao produzi-lo, foi evitar o uso de metal, pois ficaria sujeito a agentes corrosivos, como a urina. Isto o tornou um tanto frágil. Após alguns anos de uso, o parafuso arrebentou junto à cabeça, conforme mostra a figura 1.
A solução encontrada foi inserir uma “alma” de outro parafuso, menor e metálico, autoatarrachante, tipo Mittofix, que custou alguns centavos.
As duas partes do parafuso quebrado foram juntadas e fixadas levemente, derretendo um pouco o plástico da junção. Depois, foi feito um furo central, com diâmetro pouco menor que a bitola do parafuso metálico (figuras 3 e 4). Foi necessário utilizar uma broca bem afiada e furar lentamente, para evitar que as peças descolassem.
Também foi aberto, com broca maior, um espaço para alojar a cabeça chata do parafuso metálico dentro da cabeça do parafuso plástico, conforme pode-se ver nas figuras 5 e 6.
Para escarear a superfície do plástico com a broca mais larga, é importante segurar firmemente a peça e utilizar baixíssima velocidade da furadeira (ou dar leves toques). Pois se a broca passar da superfície, irá cavocar o plástico e fará um rombo. Também pode-se utilizar um estilete ou afundar a cabeça de um prego quente para escarear o furo. De modo a evitar a corrosão, pode-se adicionar um pouco de borracha de silicone na área exposta do metal.
Eu poderia, ainda, ter adicionado reforços laterais (grampos metálicos) para impedir que as partes quebradas girassem e desposicionassem, mas com calma e paciência ao furar foi possível manter tudo no lugar, sem muito trabalho (figura 7).
Amigo, sabe aquelas bombonas que podem ser utilizadas para armazenar água? Elas são de polietileno, teria como juntar 2 delas para aumentar a capacidade?
Felipe, creio que a única forma de juntá-las seria através de um sistema de canalização, porque o polietileno não cola. Aliás, só cola com calor, mas a temperatura deve ser tão exata que fica difícil soldar. Além disso, mesmo se soldasse, haveria o problema da resistência contra a água. Uma bombona tem o formato circular e consegue resistir à pressão da água. Mas se juntar duas bombonas, a pressão da água poderia abrir ou fazer uma barriga na bombona de baixo. No mínimo, ficaria muito frágil e perigoso.
Gostaria de encontra um produto para colar caixa d’água de plástico.
Antonio, se sua caixa é de fibra de vidro (aquela que trinca fácil, é um material sem flexibilidade, bem seco), o conserto será com manta de fibra de vidro e resina, é um material encontrado em lojas de ferragens e tintas.
Se o material for polietileno, não conheço cola para ele. A solução seria reforçar a parte quebrada conforme oriento neste post.
Depois, aplicar por dentro uma camada de silicone para aquários (que não tem o veneno anti-fungo). Para aplicar, a área deve estar bem seca e limpa.