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O cacarejar da galinha

20 de março de 2016

Figura 1 – Cartum gentilmente cedido pelo cartunista LAZ MUNIZ. Fonte: Brazil Cartoon [1].

Figura 1 – Cartum gentilmente cedido pelo cartunista LAZ MUNIZ. Fonte: Brazil Cartoon [1].

Tenho visto, com certa aflição, os acontecimentos dos últimos dias e percebo que a radicalização agora é a regra. Uma parcela da sociedade não se conforma com a presidente atual.

E querem ver o ex-presidente, do mesmo partido, na cadeia. Os valores envolvidos nos delitos são risíveis, perto de um banco pego na Zelotes, por exemplo, que deve 4 bilhões de reais em impostos. Quem deu mais prejuízo? Isto não serve como juízo de valor? Qual processo importa mais?

Querem porque querem, como crianças mimadas. E estão surdos, não ousam escutar qualquer palavra da outra parcela da sociedade, que votou na atual presidente e espera o cumprimento da lei.

Numa época em que o bullying é execrado em todo lugar, justamente é o que mais fazem contra os últimos dois presidentes. Jamais presenciei tamanho assanhamento, onde se comprazem em falar de alguém que não conhecem, através de adjetivos ofensivos. Tem vídeos onde pessoas de aparência angelical chegam a babar de ódio, gritando, vociferando, com os olhos esbugalhados. Experimente falar para qualquer estrangeiro, mal, do presidente de seu país. Aqui, pode.

Com o partido da presidente é a mesma coisa, mas isto não é novidade, pois batem nele desde que o fundaram. As agressões destilam a intolerância contra quem pensa diferente. Boatos, sempre existiram, como aquele de 1989, que assustou muita gente, quando se dizia que colocariam um bando de pobres para morar com cada família, se ganhassem a presidência. E quando chegaram lá, assistimos ao maior plano habitacional desde o descobrimento.

O pior é que agridem os eleitores, pois tentam passar a ideia de que estes são burros, ignorantes e não pensam por si. De forma totalmente prepotente, abusam de “entrevistas”, onde humilham e zombam da gente simples, que não tem a capacidade de conversação dos articulistas. E consideram-se representantes da “opinião pública”. Na verdade, é a opinião que se publica (obrigado, Barão de Itararé).

Quem um dia sentiu a barriga roncar de fome, sabe o que é dificuldade. Quem sempre foi acostumado a dar ordens e nunca recebeu um não, não consegue compreender a humildade e entra em pânico ao passar por um bairro pobre.

E os meios de comunicação, que há anos quebraram duas regras básicas do jornalismo: a de sempre ouvir todos os lados e a de nunca misturar fatos com opiniões. Exibem-se sempre como imparciais, mas está evidente que eles têm lado. E não é o dos pobres e remediados, muito menos o do Brasil.

Uma mídia de poucos donos, que só fala em patriotismo em época de Copa, Fórmula 1 e quando há algum projeto que atenda a seus interesses (como foi na época das privatizações e nos dois impeachment, o de Collor e o de agora).

Uma mídia que não cultua nosso país, como os meios de comunicação americanos o fazem, muitas vezes com ufanismo. Uma mídia que sempre martela que o bom vem de fora.

Nunca vi uma programação especial para os feriados nacionais. Se eles caem no meio da semana, tudo corre como se fosse outro dia qualquer. Taí um dos motivos pelos quais não vemos quase ninguém nos desfiles de 7 de setembro, as homenagens são escassas em outras datas cívicas e o Natal e a Páscoa perdem cada vez mais sua importância religiosa e tornam-se épocas de consumo.

Alguém ainda pendura a bandeira brasileira num mastro, em frente à sua casa, todos os dias, coisa que era comum nos anos 1950-1960? Nem mesmo os prédios públicos a hasteiam atualmente. Muitos cidadãos americanos ainda o fazem, com o maior orgulho.

Quantos brasileiros ainda montam o presépio, debaixo da árvore de Natal?

Além da desconsideração para com nosso país, estes meios de comunicação omitem muita coisa.

Omitem que um juiz ganha 80 mil reais por mês, ou mais, com os penduricalhos. Quantia que um assalariado leva 10 anos para somar. Esquecem que os membros da Corte têm 2 meses de férias, sem contar a folga do final de ano. E não consideram indecentes o auxílio moradia e auxílio educação para magistrados.

Esquecem que juízes criminosos são somente aposentados e continuam com seu salário.

Omitem que um deputado ou senador aposenta-se com 8 anos de mandato. No caso do senador, é um mandato só e a pessoa não precisa mais trabalhar. Sem falar no salário, também absurdo. Mas os políticos podem ser destituídos.

Omitem a construção do cargueiro Embraer KC-390, o maior jato da América Latina, construído em parceria com a Argentina, Portugal e República Tcheca, que permitirá a Embraer construir aviões cada vez maiores.

Omitem o benefício que foi para 400 empresas brasileiras, que receberam financiamento do BNDES para exportarem seus serviços e produtos, para a revitalização do porto de Mariel, em Cuba. O dinheiro não foi para o exterior, ficou aqui [2] [4]. Omitem que este porto será estratégico, quando estiver concluído o novo canal entre o Pacífico e o Atlântico, na Nicarágua.

Figura 2 – Porto de Mariel I, Cuba. Fonte: Granma [4].

Figura 2 – Porto de Mariel I, Cuba. Fonte: Granma [3].

 Figura 3 – Porto de Mariel II, Cuba. Fonte: Odebrecht [4].


Figura 3 – Porto de Mariel II, Cuba. Fonte: Odebrecht [4].

Figura 4 – Porto de Mariel III, Cuba. Fonte: Odebrecht [4].

Figura 4 – Porto de Mariel III, Cuba. Fonte: Odebrecht [4].

Omitem que uma empresa como a Odebrecht emprega 168 mil trabalhadores, que estão sendo prejudicados por esta sanha de acabar com as grandes empresas nacionais, em vez de fazer um processo judicial justo e correto, com provas e testemunhos verdadeiros e que puna os envolvidos, não as empresas que negociaram com os dois últimos governos.

Omitem as dezenas de novos portos construídos no Brasil, na última década. Alguns são terminais exclusivos para carga e descarga de contêineres, como o porto de Itapoá, em Santa Catarina (fotos abaixo). Cuidem o movimento dele.

Figura 5 – Porto de Itapoá, SC, em 2014 - I.

Figura 5 – Porto de Itapoá, SC, em 2014 – I.

Figura 6 – Porto de Itapoá, SC, em 2014 - II.

Figura 6 – Porto de Itapoá, SC, em 2014 – II.

Figura 7 – Porto de Itapoá, SC, em 2014 - III.

Figura 7 – Porto de Itapoá, SC, em 2014 – III.

Omitem que, em razão desses novos portos (e de novos parceiros comerciais, em especial os do BRIC), as exportações brasileiras aumentaram mais de 500% entre 2003 e 2015 e as importações, um percentual semelhante. Omitem que as exportações geram muito menos impostos do que as importações. Omitem as melhorias nos sistemas de comércio exterior, com a eliminação dos processos em papel, para agilizar as operações. E continuam reclamando da logística e mostrando indicadores parciais [5] [6].

Omitem e desdenham a extração de petróleo do Pré-Sal, que é altamente rentável (8 dólares por barril extraído, contra 15 dólares da média mundial) e que as reservas colocarão o Brasil como o terceiro maior produtor mundial de petróleo, em 20 anos, o que influenciará o preço do barril.

Omitem que um poço do Pré-Sal é perfurado em tempo recorde, perto de 30 dias. Imagine perfurar 5 quilômetros de solo neste tempo. Omitem que só a Petrobrás o faz – sem poluição – e com índice de sucesso (quando tem petróleo) perto de 100%, muito além da média mundial de 60%.

Omitem que o Pré-Sal já responde por um terço do petróleo e gás extraídos de nossas plataformas.

Omitem que o Pré-Sal, com reservas no mínimo 9 vezes maiores que as da Noruega, poderá alavancar nossa educação a um patamar de qualidade sem precedentes. A Noruega usou suas reservas de petróleo para sair da pobreza e tornar-se hoje o país com o melhor IDH do mundo. Aliás, a Noruega adota o sistema de partilha para a extração de petróleo. No regime de partilha, a propriedade dos poços continua com o governo, ao contrário do regime de concessão.

Figura 8 – Plataforma de extração do Pré-Sal com navio-plataforma (FPSO). Fonte: Jornal GGN [7].

Figura 8 – Plataforma de extração do Pré-Sal com navio-plataforma (FPSO), com dois risers concentradores de cabos. Fonte: Jornal GGN [7].

Figura 9 – Boias (risers) para isolar a correnteza do mar das tubulações, que permite montar as tubulações sem precisar de plataforma. Fonte: COPPE UFRJ [8].

Figura 9 – Boia (riser) para isolar as ondas do mar das tubulações, que permite montar as tubulações sem precisar de plataforma. Fonte: COPPE UFRJ [8].

Figura 10 – Riser visto de perto, observar o tamanho das pessoas. Fonte: Jornal GGN [7].

Figura 10 – Risers vistos de perto, observar o tamanho das pessoas. Fonte: Jornal GGN [7].

Omitem que Collor foi deposto porque atrasou as privatizações e ouviu o canto de sereia de Brizola sobre educação, quando passou a construir CIACs por todo o país. O CIAC – depois renomeado para CAIC – foi uma versão nacional do CIEP e existe em milhares de cidades brasileiras. O CIEP foi idealizado pelo político, professor e antropólogo Darci Ribeiro [9], um dos maiores estudiosos do Brasil.

Omitem que está em votação um projeto de lei para dificultar a participação da Petrobrás no Pré-Sal e acabar com o regime de partilha, agora, nestes dias que correm. É aí que está o ovo, a galinha está cacarejando lá do outro lado e falando de política, contra o governo, pelo impeachment. A bola da vez é a Petrobrás, não se iludam. Para quem não sabe, a galinha quando bota ovo, sai correndo e começa a cacarejar loucamente, para atrair a atenção para si, não para o ovo.

Omitem que o salário-mínimo pulou de 72 dólares em 2003 para 309 dólares em 2015.

Omitem que metade da riqueza dos brasileiros está nas mãos de menos de 50 pessoas. Omitem que os últimos dois governos tentam, há anos, implantar a cobrança de impostos sobre as grandes fortunas, mas o Congresso impede.

Reclamam da violência, mas a programação da mídia é toda voltada para isso, especialmente as novelas, que abusam de cenas sombrias e depressivas, com poucas cores (amarelo, vermelho, preto). Noticiário, então, nem se fala, é só tragédia e sangue. Afinal, para eles bandido bom é bandido morto. Mesmo que muitas vezes não seja bandido.

Omitem que as favelas estão em guerra civil há décadas, que no Brasil é onde mais morre gente por assassinato no mundo, mais do que nas atuais guerras no Oriente Médio. As vítimas são na grande maioria, jovens pretos ou mulatos e pobres.

Omitem que o protesto de vários dias em Brasília contra o governo, foi pago e que algum pecuarista de Goiás presenteou bois aos manifestantes. Por isto que tinha churrasco de picanha. Conheço algumas pessoas daqui da cidade que receberam dinheiro para viajar de carro do Rio Grande do Sul a Brasília, para participar dessa “mamifestação”. Se pagaram por isso, imagine o que devem estar pagando agora.

Omitem que foram implantados o ponto eletrônico e as metas de desempenho para funcionários públicos. Ainda há setores da administração federal que rejeitam as medidas (consideram-se acima disso). MAS, se alguém é contratado para trabalhar 6 ou 8 horas diárias, deve cumprir toda a jornada, não importa qual é o patrão, nem o cargo que ocupa. É o que todo trabalhador da iniciativa privada está cansado de saber.

Por fim, omitem toda e qualquer ação que possa indicar que alguma coisa positiva está sendo feita. Porque não é o projeto deles que está em vigor. Por isso, interessa a eles parar o Brasil. E 2015 foi só um cheirinho do que poderá vir.

Aliás, sempre foi assim: quando o Brasil começa a entrar nos eixos, colocam areia nos trilhos. Querem rodar o mesmo filme, de novo, como já fizeram em 1954, 1964 e 1992. E sem criatividade, pois a ladainha é e sempre foi a mesma: o combate à corrupção.

Isto me faz lembrar da obra Il Gattopardo (O Leopardo, único livro de Giuseppe Tomasi di Lampedusa), onde o príncipe dizia que “tudo tem que mudar para tudo continuar como antes”.

Afinal, porque não há programas edificantes nestes meios de comunicação, que permitam às pessoas aprender algo de bom. Porque não há incentivo para fazer a coisa certa? Porque procuram sempre mostrar a marombagem, a promiscuidade, as cenas eróticas em horário impróprio, a fraude, o desrespeito, o preconceito, a traição, a intriga, a humilhação? Nas cenas de humor, orientam para rirmos dos outros, não com os outros.

Alguém lembra de algum programa, em horário aceitável, sobre profissões interessantes, por exemplo, que poderiam despertar a vocação de jovens? Porque elevam tanto as profissões de ator, cantor, jogador de futebol, etc., mas nunca as de engenheiros, pesquisadores, militares ou instrumentistas? Porque sempre reforçam o trabalho individual, em vez de profissões precisam de equipes?

Se estamos em crise, o mais correto para os meios de comunicação seria criar, no ramo do entretenimento, válvulas de escape, para possibilitar rirmos da situação e observar as coisas por outros ângulos, de um modo que melhore nosso olhar crítico. Mas interessa uniformizar os comportamentos, alienar, imbecilizar as pessoas e criar um clima de confronto. Que está a pleno vapor.

Se isto continuar, poderemos chegar a um estado de convulsão (palavra que alguns jornais já estampam, apesar dos brasileiros trabalharem normalmente e não haver qualquer menção a um estado de sítio). Já existem empresários colocando lenha na fogueira, fazendo até apologia ao crime (desobediência civil). Aonde pretendem chegar, quando a situação fugir do controle?

Aqueles que agora protestam, esquecem que também serão atingidos, no caso de estalar algo mais grave. Exatamente como aconteceu com a Iugoslávia.

Aquele país, que saíra do domínio soviético já em 1961, não era rico mas tinha uma forte indústria local (automóveis, eletrodomésticos, minérios, cigarros, etc.), sistema público de saúde, produção agrícola orgânica e boa qualidade de vida. Foram insufladas disputas internas que o estraçalharam. Estes conflitos, acompanhados de inúmeras chacinas e outras atrocidades, ocorridos na década de 1990, originaram a Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Kosovo, Macedônia, Montenegro e Sérvia. As grandes empresas foram privatizadas e hoje são dominadas por multinacionais. A agricultura deles atualmente utiliza agrotóxicos e transgênicos, a poluição aumentou e as doenças também. Assista ao documentário “O peso das correntes”, de 2010, do premiado diretor sérvio-canadense Boris Malagurski [10] [11] [12]. Há uma segunda e terceira partes do documentário, a última ainda não terminada. Os DVDs podem ser comprados no sítio do diretor.

Figura 11 - “Evolução” da Iugoslávia (ou Jugoslavia, como corrigem seus habitantes). Fonte: Wikipedia [13] [14].

Figura 11 – “Evolução” da Iugoslávia (ou Jugoslavia, como corrigem seus habitantes). Fonte: Wikipedia [13] [14].

Figura 12 – Documentário “O peso das correntes”, de Boris Malagurski [10].

Figura 12 – Capa do DVD do documentário “O peso das correntes”, de Boris Malagurski [10].

Aqui nos trópicos, vemos a imprensa alimentar frequentemente o preconceito das regiões Sul e Sudeste, contra Norte e Nordeste. Inclusive contra nossos irmãos de toda a América Latina, de África, Portugal, China, etc.. Em vez de respeitarem as características de cada povo e lugar, aprendendo e reconhecendo o que há de bom neles e procurar conhecer suas carências, preferem, por absoluta desinformação, repetir chavões com os mais obscenos preconceitos. Ou é má fé mesmo. Ou são pagos para isso.

Este é o começo da discórdia, que segue a máxima do Império Romano: divide et impera (dividir para reinar). A quem este comportamento beneficia?

Observação:

Para quem desejar comentar, informo que não há esta possibilidade. É uma pequena maneira de demonstrar a impotência que sentimos, quando queremos falar e não somos ouvidos.

Referências

[1] Brazil Cartoon – Laz Muniz – http://brazilcartoon.com/blog/lazmuniz/

[2] Odebrecht – Newshttp://odebrecht.com/en/communication/news

[3] Granma – Com a filosofia de sobreviver, crescer e perdurar – http://pt.granma.cu/cuba/2016-02-05/com-a-filosofia-de-sobreviver-crescer-e-perdurar

[4] Odebrecht – Odebrecht Infraestrutura América Latina conclui a revitalização do porto Mariel em Cuba – http://odebrecht.com/pt-br/odebrecht-infraestrutura-america-latina-conclui-a-revitalizacao-do-porto-mariel-em-cuba

[5] Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – Balança Comercial Mensal – http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=1161

[6] IPEA – Brasil em Desenvolvimento 2015 – Estado, Planejamento e Políticas Públicas – http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/bd_2015_web.pdf

[7] Jornal GGN – Clipping do dia – Tecnologia desenvolvida pela Petrobrás impulsiona produção no PR – http://jornalggn.com.br/comment/415048#comment-415048

[8] Petrobrás – Descubra o Pré-Sal – http://relacionamento.petrobras.com.br/otc2013/PreSal

[9] Blog do Mello – Collor, Roberto Marinho, Brizola, CIAC, CIEP – http://blogdomello.blogspot.com/2007/06/collor-roberto-marinho-brizola-ciac.html

[10] Blog de Boris Boris Malagurski – Weight of chains 1, 2, 3http://weightofchains.ca/

[11] Wikipedia – Weight of Chains (O peso das correntes) – https://en.wikipedia.org/wiki/The_Weight_of_Chains

[12] Bemvindo à Servia – Comunidade servo-brasileira no filme – http://bemvindoaservia.blogspot.com.br/2012/05/comunidade-servo-brasileira-no-filme.html

[13] Wikipedia – Desintegração da Iugoslávia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Desintegra%C3%A7%C3%A3o_da_Iugosl%C3%A1via

[14] Wikipedia – Jugoslavia – https://pt.wikipedia.org/wiki/Jugosl%C3%A1via

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